oo  

Trànsit: Foto Joan Navarro. Oliva, 2010

              Trànsit: Foto Joan Navarro

 

 

|Oswaldo Osório|

 

 

Picasso de Geneviève Laporte

~

naufrágio

~

lembranbrança nº 4

 

 

[Picasso de Geneviève Laporte

~

naufragi

~

record núm. 4]

 

 

[Picasso de Geneviève Laporte

~

naufragio

~

recuerdo nº 4]

 

 

 

 

Picasso de Geneviève Laporte

era o que lia nesse domingo de manhã

súbito escureceu-me a vista à varanda

sob um cinzento filtrado de vidros acrílicos

 

de uma quarta estação confundida com Dezembro

E de dentro um frio:

“Vem ver, é um eclipse”

E entre os meus dois rins

 

o sol  e a lua já quase sobrepostos

dispunham-se na chapa como um tumor

de sangue e negros humores:

e velocíssimo o meu Natal se eclipsa

 

 

naufrágio

 

tudo o que faço agora

é sem pressa e devagar

até o tempo de amar

é recolhida a âncora

É bem breve a escrita

como leve é a tinta

Não naufrago nos mares

sou ressaca das marés

Sujo-me de salsugem

abraçado na areia

ao frio que refreia

esta minha viagem

 

 

lembrança nº 4

 

para alda

 

sete anos de vacas magras

sete anos de vacas gordas

deixei sempre minha estrela

navegar de velas pandas

 

nas marés de pouco sebo ou muito leite

e a minha estrela um dia naufragou

ao dobrar o cabo onde se esquecem os ciclos todos

 

que fiz da minha estrela

para acordar num espanto

nos braços dela

a catar os seus pedaços?

 

 

Oswaldo Osório nasceu a 21 de Novembro de 1937 em S. Vicente., Cabo Verde. Frequentou o liceu Gil Eanes e o seminário nazareno. Publicou, entre outros, «Caboverdianamente construção, meu amor», 1975, «Clar(a)idade asombrada» 1987, «Os loucos poemas de amor e outras estações inacabadas», 1997, e «A sexagésima curvatura», 2008.

 

 

oO

 

 

Picasso de Geneviève Laporte

era allò que llegia aquell diumenge de matí

de sobte se’m va enfosquir la vista a la veranda

sota un gris filtrat de vidres acrílics

 

d’una quarta estació confosa amb desembre

I des de dins un fred:

“Vine a veure, és un eclipsi”

I entre els dos meus ronyons

 

el sol  i la lluna ja quasi superposats

es disposaven en la placa com un tumor

de sang i negres humors:

i a tota velocitat el meu Nadal s’eclipsa

 

 

naufragi

  

tot el que ara faig

és sense pressa i lentament

fins el temps d’estimar

és recollida l’àncora

És molt breu l’escriptura

com lleu és la tinta

No naufrague en les mars

sóc ressaca de les marees

M’embrute de fang i salabre

abraçat a l’arena

al fred que refrena

aquest viatge meu

 

 

record núm. 4

 

per a  alda

 

set anys de vaques magres

set anys de vaques grasses

vaig deixar sempre al meu estel

navegar a tota vela

 

en les marees de poc sèu o molta llet

i el meu estel un dia va naufragar

en doblar el cap on s’obliden tots els cicles

 

què vaig fer del meu estel

per a despertar d’un esglai

en els seus braços

buscant el seus bocins?

 

 

Oswaldo Osório va nàixer el 21 de novembre de 1937 a S. Vicente, Cabo Verde. Va assistir al liceu Gil Eanes i al Seminari Natzarè. Va publicar, entre d’altres, Caboverdianamente construção, meu amor, 1975; Clar(a)idade asombrada, 1987; Os loucos poemas de amor e outras estações inacabadas, 1997, i  A sexagésima curvatura, 2008.

 

[Traducció: Joan Navarro

 

 

oO

 

 

Picasso de Geneviève Laporte

era lo que leía esa mañana de domingo

de repente se me nubló la vista en la veranda

bajo un gris filtrado de cristales acrílicos

 

de una cuarta estación confundida con diciembre

Y desde dentro un frío:

“Ven a ver, es un eclipse”

Y entre mis dos riñones

 

el sol  y la luna ya casi superpuestos

se disponían en la placa como un tumor

de sangre y negros humores:

y velocísima mi Navidad se eclipsa

 

 

naufragio

  

todo lo que hago ahora

es sin prisa y lentamente

hasta el tiempo de amar

es recogida el áncora

Es muy breve la escritura

como leve es la tinta

No naufrago en los mares

soy resaca de las mareas

Me ensucio de lodo y sal

abrazado en la arena

al frío que refrena

este viaje mío

 

 

recuerdo nº 4

 

para alda

 

siete años de vacas flacas

siete años de vacas gordas

dejé siempre a mi estrella

navegar a toda vela

 

en las mareas de poco sebo o mucha leche

y mi estrella un día naufragó

al doblar el cabo donde se olvidan todos los ciclos

 

¿qué hice de mi estrella

para despertar de un sobresalto

en sus brazos

buscando sus pedazos?

 

 

Oswaldo Osório nació el 21 de noviembre de 1937 en S. Vicente, Cabo Verde. Asistió al liceo Gil Eanes y al Seminario Nazareno. Publicó, entre otros, Caboverdianamente construção, meu amor, 1975; Clar(a)idade asombrada, 1987; Os loucos poemas de amor e outras estações inacabadas, 1997, y A sexagésima curvatura, 2008.

 

[Traducción: Joan Navarro

 

 

OO

 

Valentinous Velhinho

 

 

a | entrada | Llibre del Tigre | sèrieAlfa | varia | Berliner Mauer |