Desnascer | Desnéixer | sèrieAlfa
núm. 100
Imatge:
Cesc Navarro
Cláudia
Lucas Chéu
Uma dúzia de poemas
Coroas de flores
não disfarçam o cheiro
da morte.
ƒ
Que se atrevam sempre os meus olhos
oblíquos no teu decote,
as minhas mãos ligeiras sobre as tuas
ancas,
a
minha fome à caça do fruto
que me proíbes e escondes.
ƒ
Cair no útero
de mala e sapatos postos.
Desnascer.
ƒ
Quem nos roubou o algodão de feira
da nossa infância?
Em que momento nos agrilhoaram
ao caderno de afazeres inúteis?
Onde deixámos o riso
de dentes de leite fresco?
Como bigornas de tédio,
assim vamos esmagando os dias.
ƒ
Ninguém tem um dom,
não é coisa que se possua.
É-se possuído por um dom.
ƒ
Talvez só haja encontro de mim,
quando for capaz de perder-me
de mim.
ƒ
Bom samaritano
Não estendas a mão ao abismo
se tens dedos de cristal.
ƒ
Quero fundir-me contigo,
com os meus braços todos
e
as minhas pernas à tua volta.
ƒ
Sentença do consumismo
Com inúmeros pequenos prazeres,
vamos alienar-te dos teus verdadeiros desejos.
ƒ
O cupido é um pirómano cego
Risca fósforos
e
atira-os às cegas.
O cupido não resiste
ao vício secreto das chamas.
ƒ
Sou feita
de dores emprestadas.
Com a
terra revolvida por outros
escondo o meu poço,
o
meu fosso,
o
abismo.
Cláudia Lucas Chéu, Lisboa, Portugal, 1978. Escritora, poeta e dramaturga. Docente na
Universidade de Évora e na Escola Superior de Comunicação Social. Tem
publicados os textos para teatro Glória ou como Penélope morreu de tédio, 2011; Violência — Fetiche do homem bom, 2013; A cabeça muda, 2014; Veneno, 2015 e Orlando — tratado sobre
a dignidade humana, 2022. Em poesia, publicou Nojo, (não) edições, 2014; Trespasse, Edições Guilhotina,
2014; Pornographia, Editora
Labirinto, 2016; Ratazanas, Selo
Demónio Negro, São Paulo, Brasil, 2017; Beber pela garrafa, Companhia das Ilhas, 2018; Confissão, Companhia das Ilhas, 2020, semifinalista do Prémio
Oceanos em 2021e Ode triumphal
à cona, Companhia das Ilhas, 2022. Também tem publicados romances, contos e
ensaios.
Una dotzena
de poemes
Corones
de flors
no
disfressen l’olor
de
la mort.
ƒ
Que s’atreveixin sempre els meus ulls
oblics
en el teu escot,
les
meves mans lleugeres sobre les teves
anques,
la
meva fam a la caça del fruit
que
em prohibeixes i amagues.
ƒ
Caure
en l’úter
amb
la bossa de mà i les sabates posades.
Desnéixer.
ƒ
Qui
ens va furtar el cotó fluix de sucre
de
la nostra infància?
En
quin moment ens van encadenar
al quadern de tasques
inútils?
On
vam deixar la rialla
de
dents de llet fresca?
Com
bigòrnies de tedi,
així
anem aixafant els dies.
ƒ
Ningú
té un do,
no
és cosa que es posseeixi.
S’és posseït per un do.
ƒ
Potser
només hi haurà una trobada de mi,
quan
sigui capaç de perdre’m
de
mi.
ƒ
Bon
samarità
No
donis la mà a l’abisme
si
tens dits de cristall.
ƒ
Vull
fondre’m amb tu,
amb
tots els meus braços
i
les meves cames al teu voltant.
ƒ
Sentència
del consumisme
Amb
innúmers petits plaers,
anem
a alienar-te dels teus vertaders desitjos.
ƒ
Cupido
és un piròman cec
Frega
mistos
i
els llança a cegues.
Cupido
no es resisteix
al
vici secret de les flames.
ƒ
Soc
feta de dolors emprestats.
Amb
la terra remoguda per uns altres
amago
el meu pou,
la
meva fossa,
l’abisme.
Cláudia Lucas Chéu, Lisboa, Portugal, 1978. Escriptora,
poeta i dramaturga. Docent a la Universitat d’Évora
i a l’Escola Superior de Comunicació Social. Ha publicat els textos
teatrals Glória ou
como Penélope morreu de tédio, 2011; Violência — Fetiche do homem bom, 2013; A
cabeça muda, 2014;
Veneno, 2015 i Orlando — tratado sobre a dignidade
humana, 2022. En poesia ha publicat Nojo, (não)
edições, 2014; Trespasse,
Edições Guilhotina, 2014; Pornographia, Editora Labirinto, 2016; Ratazanas, Selo Demónio Negro, São
Paulo, Brasil, 2017; Beber pela
garrafa, Companhia das Ilhas, 2018; Confissão, Companhia das Ilhas, 2020, semifinalista del Prémio Oceanos el 2021; i Ode triumphal à
cona, Companhia das Ilhas, 2022. També ha publicat novel·les, contes i assajos.
[Traducció de Joan Navarro]
Una docena de poemas
Coronas de flores
no
disfrazan el olor
de
la muerte.
ƒ
Que se atrevan siempre mis ojos
oblicuos en tu escote,
mis
manos ligeras sobre tus
caderas,
mi
hambre a la caza del fruto
que
me prohíbes y escondes.
ƒ
Caer en el útero
con
el bolso y los zapatos puestos.
Desnacer.
ƒ
¿Quién
nos robó el algodón de azúcar
de
nuestra infancia?
¿En
qué momento nos encadenaron
al
cuaderno de tareas inútiles?
¿Dónde
dejamos la risa
de
dientes de leche fresca?
Como bigornias de tedio,
así
vamos aplastando los días.
ƒ
Nadie tiene un don,
no
es algo que se posea.
Se es poseído por un don.
ƒ
Quizá sólo habrá un encuentro de mí,
cuando
sea capaz de perderme
de
mí.
ƒ
Buen samaritano
No des la mano al abismo
si
tienes dedos de cristal.
ƒ
Quiero fundirme contigo,
con
todos mis brazos
y
mis piernas a tu alrededor.
ƒ
Sentencia del consumismo
Con innúmeros pequeños placeres,
vamos a
alienarte de tus verdaderos deseos.
ƒ
Cupido es un pirómano ciego
Rasca cerillas
y
las lanza a ciegas.
Cupido no se resiste
al
vicio secreto de las llamas.
ƒ
Estoy hecha de dolores prestados.
Con la tierra removida por otros
escondo
mi pozo
mi
fosa,
el
abismo.
Cláudia Lucas Chéu, Lisboa, Portugal, 1978. Escritora, poeta y dramaturga. Docente en la
Universidad de Évora y en la Escuela Superior de Comunicación Social. Ha
publicado los textos teatrales Glória ou como Penélope morreu de tédio, 2011; Violência — Fetiche do homem bom, 2013; A cabeça muda, 2014; Veneno, 2015 y Orlando — tratado sobre
a dignidade humana, 2022. En poesía ha publicado Nojo, (não) edições, 2014; Trespasse, Edições Guilhotina, 2014; Pornographia, Editora
Labirinto, 2016; Ratazanas, Selo
Demónio Negro, São Paulo, Brasil, 2017; Beber pela garrafa, Companhia das Ilhas, 2018; Confissão, Companhia das Ilhas, 2020, semifinalista del Prémio Oceanos en 2021; y Ode triumphal à
cona, Companhia das Ilhas, 2022. También ha publicado novelas, cuentos y ensayos.
[Traducción: Joan Navarro]
Une douzaine de poèmes
Des
couronnes de fleurs
ne
masquent pas l’odeur
de
la mort.
ƒ
Que mes yeux obliques vers ton décolleté
osent toujours,
mes mains légères sur tes
hanches,
ma faim à la chasse du fruit
que tu m’interdis et me caches.
ƒ
Tomber
dans l’utérus
avec
la valise et les chaussures chaussées.
Dénaître.
ƒ
Qui nous a volé la barbe à papa
de notre enfance ?
À quel moment nous ont-ils
enchaînés
au
cahier de tâches inutiles ?
Où
avons-nous laissé le rire
de
dents de lait frais ?
Comme
des bigornes d’ennui,
C’est
ainsi que nous écrasons les jours.
ƒ
Personne
n’a un don,
ce
n’est pas quelque chose que l’on possède.
On
est possédé par un don.
ƒ
Peut-être
n’y aura-t-il de
rencontre avec moi
que
lorsque je serai capable de me perdre
de
moi-même.
ƒ
Bon samaritain
Ne tends pas la main vers l’abîme
si
tu as des doigts de cristal.
ƒ
Je veux me fondre en toi,
avec
tous mes bras
et
mes jambes autour de toi.
ƒ
Sentence de la consommation
Avec d’innombrables petits plaisirs,
nous
allons t’aliéner de tes vrais désirs.
ƒ
Cupidon est un pyromane aveugle
Il gratte des allumettes
et les
lance à l’aveuglette.
Cupidon ne résiste pas
au
vice secret des flammes.
ƒ
Je suis faite de douleurs empruntées.
Avec la terre remuée par d’autres
Je cache mon puits,
mon
fossé.
l’abîme.
Cláudia Lucas Chéu, Lisboa, Portugal, 1978. Écrivaine, poète
et dramaturge. Enseignante à l'université d’Évora et à l’école de communication
sociale. Elle a publié les textes de théâtre suivants : Glória ou como Penélope morreu de tédio,
2011
; Violência - Fetiche do homem bom, 2013 ; A cabeça muda, 2014 ; Veneno,
2015 et Orlando - tratado sobre a dignidade humana, 2022. En poésie, elle a publié Nojo, (no) edições, 2014 ; Trespasse,
Edições Guilhotina, 2014 ; Pornographia,
Editora Labirinto, 2016 ; Ratazanas, Selo Demónio Negro, São Paulo, Brésil, 2017 ; Beber pela garrafa,
Companhia das Ilhas, 2018 ; Confissão, Companhia das Ilhas, 2020, demi-finaliste du prix Oceanos en 2021 et Ode triomphal
à cona, Companhia das Ilhas, 2022. Elle a également publié des romans, des contes et
des essais.
[Traduction: Dolors Català]
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