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[Max Martins]

 

O caldeirão
[Le chaudron]

 

Os chamados  do tigre
 

Na cabana

 

Um jardim zen

 

Ideograma para Blake

 

Claro ideograma

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os chamados do tigre

Os chamados do tigre me atravessam. Ardem
e medram em sangue sob escombros, plasmam
a carne do meu fruto flamejando-o

Quem defende o meu corpo deste incêndio
desta palavra corpo se afogando?
E quem sou eu para guardar um nome de sua noite? Quem
das grades dessa noite, a pele majestosa, tenso
vibra seus punhos contra a neve?

Tu
que não me dizes nem me sabes, tu
que do topo dos topos da metáfora me alivias
:

Do fundo de meus olhos cego-deslumbrados
obscuros laivos de ternura me procuram

 

 

Δ

 

O caldeirão

Aos sessenta anos-sonhos de tua vida (portas
que se abrem e fecham
fecham e abrem
carcomidas)

ferve

a gordura e as unhas das palavras
seu licor umbroso, teus remorsos-pêlos
Ferve

e entorna o caldo, quebra o caldeirão
e enterra
teu faisão de jade do futuro
teu mavioso osso do passado

Agora que a madeira e o fogo de novo se combinam
e o inimigo nº 1 não te enxerga
ou vai-se embora
varre a tua cabana e expõe ao sol tua língua
tua esperança tíbia
o tigre da Coréia da parede

É lícito tomar agora a concubina
E despentear na cama a lua escura, o ideograma

 

 

Δ

 

Le chaudron

Aux soixante années-rêves de ta vie (portes
qui s'ouvrent et se ferment
se ferment et s'ouvrent
vermoulues)

fais bouillir

la graisse et les ongles des mots
ler liqueur ombreuse, tes remords-poils
Fais-les bouillir
et répands-en le jus, casse le chaudron
et enterre
ton faisan de jade du futur
ton tendre os du passé

Maintenant que le bois et le feu à nouveau se combinent
et que l'ennemi numéro 1 ne t'aperçoit plus
ou s'en va
balaie la cabane et expose au soleil ta langue
ton espérance frêle

le tigre de Corée du mur

Il est licite de prendre maintenant la concubine
Et de décoiffer dans le lit la lune som-
bre, l'idéogramme

[Versió al francès de Michel Riaudel]

 

 

 

Δ

 

 

Na cabana

 

Tuas pernas abertas

nua

às escâncaras

 

O sol me

passa por mim

traspassa

 

 

e ilumina

 

 

Tigre da Coréia

na parede

 

 

Δ

 

Um jardim zen

 

Um coração de pedra e de silêncio entre palavras

Neste espelho

                      neste jardim fechado-imóvel

                                                                    um tigre

é que nos vê

                     (puro-feroz)

                                         – não vemos

E assim nos é/nos há/não somos

                                            nem penetramos e sumimos

na sombra desse olhar

                                   da areia

 

 

Δ

 

 

Ideograma para Blake

 

Amargo Id

e ígneo tigre

                    Tigre

por dentro, sub

escrito risco

                    seta

atravessando a treva

 

 

Δ

 

 

15

 

           Claro ideograma

Sob a lanterna de lepra, disco

Solar no dorso amarelo-cadeia: tigre

 

Amargo Id e ígneo tigre por dentro, sub

escrito risco, seta atravessando a treva

 

Tu és aquele que escreve e que é escrito

das florestas de Blake aos topos da Ásia

     Salto      relâmpago       satori

 

Ou boustrophédon dentro de jaula rajada

Oco ti’gwer, raio apagado de idas e venidas

 

 

Δ

 

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