Coda

 

passos sem pressa a mancha d’água
pegadas
ser que ainda não se foi
e as eras respondendo eram essas
mensagens na areia molhada
da claridade muda de tudo,
atravessando mares
(que regressam)

sombras regressando para outros mares
possessas
nesse nada que é da cor do céu
da cor do seu
enquanto olha para trás
pegadas
na praia brava exata deste instante.
Você.
Verde arena, mente.
Clic.
Tigre na folhagem de damasco.

Viver deve ser algo, talvez, que se faz enquanto
escutamos uma concha
imaginária num deserto
(teatro de gregos
agoras segundos)
no mundo que dura enquanto
escapa
sob nossos pés:
e a boca
que pára e olha de perto a onda
verso contra verso
(flor de silêncio)
ou só essa música que cessa —
apenas pra recomeçar.
lembrando-nos das horas em abismo
(flor de silício)
perdidas ou ganhas
admirando o mar
(o mesmo que retorna em sonhos ancestrais)
enquanto a linguagem, essa promessa,
um outro milênio começa.

                                                                       [Rodrigo Garcia Lopes]



 

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