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[Jaime Vaz Brasil]

 

Milonga Borgeana
Os quatro espelhos

 

 

Milonga Borgeana

 Dentro do livro de areia
A ampulheta do tempo
Virou do avesso.

 Quase sangrando nos becos
A fome de um tigre
Em mim.

 E farejei as palavras no ar
A mão do vento se abriu
E pôs em folha suspensa
A Milonga Borgeana.

 Mil criaturas da noite
Transpassam inquietas
Os vidros de um bar.

 Monstro Aqueronte passeia
Na ponta dos pés
Em nós.

 Deu-me um espelho esquisito e falou
Da forma que a vida tem
De pôr no rosto uma cara
Que a alma desdenha.

 Milonga Borgeana
Milonga de sombra.

 Um tigre de quatro cores
Perdeu-se em teu labirinto.

 Milonga Borgeana
Espada de vento

 Nas calles de Buenos Aires
Nas calles de mis entrañas.

 El viejo tiempo se espraia
Circula a doutrina
E suspende o punhal.

 No corredor
Os rangidos do piso
São tão iguais....

 Gume afiado, o destino que fez
A mão do escuro fechar
E pôr em muro de sombra
A milonga Borgeana.

 Abre-se a fresta del sueño
E se adentra um mistério
Um segredo e o frio.

 Entro com eles
No espanto da casa
Del Asterion.

 Ah, quem me dera eu pudesse tocar
Um solo de bandonéon
Ao olho atento que mira
O futuro e o mundo...

Δ

Os Quatro Espelhos

 Quantas nuvens
passarão ligeiras
no olhar das aves?

No olhar das aves há um espelho.

 Quanta estrela
dormirá sem brilho
no olhar da lua?

 No olhar da lua há um espelho.

 Quantos verdes
correrão exatos
no olhar dos tigres?

 No olhar dos tigres há um espelho.

 Quantas cores
pulsarão mais vivas
no olhar dos cegos?

 No olhar dos cegos
o espelho vai no centro
da alma, vista por dentro.

Δ

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