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lençóis brilham como se eu tivesse tomado veneno [La veritat és...] |
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Os lençóis brilham como se eu tivesse tomado veneno. * olho fixo por onde toda a matéria contempla o espaço
Canto de Itzpapalotl Ireis à
região das piteiras selvagens, para
colher os cactos e as piteiras selvagens, para
erguer uma casa de piteiras selvagens. Ireis à
região onde é a raiz da luz, para
atirar os dardos: águia
amarela, tigre amarelo, serpente amarela, coelho
amarelo, veado amarelo. Ireis à
região onde é a raiz da morte, para atirar os
dardos: águia
azul, tigre azul, serpente
azul, coelho azul, veado azul. Ireis à
região das sementes húmidas, para
atirar os dardos sobre a terra florida:
águia
branca, tigre branco, serpente branca,
coelho
branco, veado branco. Ireis à
região dos espinheiros bravos, para
atirar os dardos sobre a terra violenta:
águia vermelha,
tigre vermelho, serpente vermelha, coelho
vermelho, veado vermelho. E depois
de atirar os dardos e atingir os deuses, o
amarelo, o azul, o branco, o vermelho,
águia,
tigre, serpente, coelho, veado — colocai
sob a sua proteção os
veladores do deus antigo — o deus do tempo.
A teoria era
esta: arrasar tudo — mas alguém pegou na
máquina de filmar e pôs em gravitação uma cabeça recolhendo-a de um
lado e descrevendo-a de outro lado num sulco
vibrante
«parecia um meteoro» como se
fosse muito simples e então a cabeça desaparecia «a lua» a
ferver a grande velocidade pelo céu dentro
«um
buraco» via-se
apenas a intensidade «estávamos com medo pois aquilo assemelhava-se a uma revelação» e foi quando ele apanhou a cabeça outra
vez e era
agora uma cabeça furiosa cheia
de peso» dizia-se «a luz agarra qualquer coisa» oh sim:
«com toda a violência» pensai
num bocado de carne despedaçado entre as mandíbulas de um
tigre: e depois deixou cair esse rosto sustentado atrás pela
bela caixa craniana com aquele rastro de cometa «que é isto?» perguntou-se — e pusemo-nos todos a pensar bastante «havia
ali um senso arcaico da paixão» talvez
uma coisa tão remota e bárbara como: o fausto: o
pavor: a caça:
«é um movimento uma forma» disse ele «é
preciso voltar ao princípio» e então
começámos a usar os olhos com a ferocidade das objectivas sem
truques capturando tudo selváticamente
e havia
por vezes a vertente das espáduas desalojadas
um
caudal sumptuoso cortado
«era tão estranho!» pela ligeireza dos dedos abertos delicado
pentagrama a duas alturas «uma
estrela refractada» para falar do que se viu na projecção do filme e então podia-se adiar tudo menos
aquela ideia de que
«não digo beleza» de que uma força impelia
tudo e a rapidez criava formas linhas
de translação feixes de
desenvolvimento ao longo das paisagens redondas como abismos
recorria-se
ainda a imagens para devolver essa cabeça ao
fulgor da sua precipitação contra os olhos a queda
«como oxigénio a arder» e a fuga e a
correria em que voltava para subir e rodar de um
modo que dizíamos: «indomavelmente» porque
vistas assim as coisas eram de uma fatalidade total e a
irrevogável maneira que tinham de ser livres soltas impunes
— na sua
firmeza: «inocentes» — isso fazia medo e havia
em nós «um estilo de ver» que nos arrastava implacavelmente para a loucura e a alegria «porque
era preciso destruir tudo» sim «de extremo a extremo» para encontrar
«o centro» onde o calcanhar gira e roda
o corpo todo o sítio
talvez onde se formam as massas dos espelhos de que
saltam fortemente «os astros os rostos» e não
haver «exemplo» mas apenas uma forma rudimentar desfechada contra
tudo aqui escavando achado o veio a limpidez primeiramente: aquilo: a cabeça
móvel apanhada
O sangue que
treme na cama: a cama que
treme na casa: a casa que
treme, A paisagem arrancada ao
chão, Furos de
lume, Os tecidos do corpo, Não é
doce esta bolsa de
sangue, Que te adiantes: cabeça estelar
de tigre, O dia empurra as suas massas, Máquina
planetária: Deus: uma faísca em
cheio, Ou um dedo apenas direito estendido:
com a
unha veemente entrando, Que a
obra espacial da luz se acomode à tua
plumagem, Em que poça de ouro se
implanta soberbamente a mão?, Às vezes és uma vara calcinada, Arrebatas
a claridade dos mortos: a sua estrela
aberta por todos os lados, Não sabes
dormir: com a força das entranhas, Apenas um
nervo alto te
sustenha, O poder devia encher-te de
tendões: o implacável prodígio
do mundo devia encher-te
de ossos — pôr-te estacas, Que raiz
de espinho na testa por dentro se embrenhasse — através
de soluços: medo: carne estrangulada — até à leveza: à qualidade diáfana
do
sopro, Onde te concentras: tão trémulo
e translúcido: tão levantado
como a chama que brota: flor na
candeia, Afundas-te
iluminadamente na riqueza violenta,
A noite bate em branco, Que
ardas, Arde
tudo, Fora dentro dos buracos,
As
labaredas atravessam as membranas
La sang tremola al llit: el llit que tremola a la casa: la casa que tremola, El paisatge arrencat al terra, Forats de foc, Els teixits del cos, No és dolça aquesta bossa de sang, Que et davantegis: cap estel·lar de tigre, El dia empeny les seves masses, Màquina planetària: Déu: un llamp de ple, O un dia només dret assenyalant: amb l’ungla vehement entrant, Que l’obra espacial de la llum s’acomodi al teu plomatge, En quin bassal d’or s’implanta sobergament la mà?, A vegades és una vara calcinada, Arrabasses la claredat dels morts: el seu estel obert per tots costats, No saps dormir: amb la força de les entranyes, Només un nervi alt et sostingui, El poder hauria d’omplir-te de tendons: l’implacable prodigi del món hauria d’omplir-te d’ossos — posar-te estaques, Quina arrel d’espina front per dintre s’endinsés — a través de sanglots: por: carn escanyada — fins a la levitat: a la qualitat diàfana de la bufada, On et concentres: tan trèmul i translúcid: tan aixecat com la flama que brolla: flor ja la candela, T’enfonses il·luminadament en la riquesa violenta, La nit sona en blanc, Que cremis, Tot crema, Fora dins dels forats, Les flames travessen les membranes. [Herberto Helder, Photomaton & Vox / Flash / El cap entre les mans. Traducció de Vimala Devi. Ed. Gregal, València, 1988.] A verdade é com um tigre que tivesse muitos cornos, ou então com uma vaca a que faltasse o rabo. [O bebedor nocturno, Portugália editora, 1968] La veritat
és com un tigre que tingués moltes banyes, o a més a
més com una vaca a la qual li faltés la cua. | entrada
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