Os tigres

 

Sete tigres de Bengala
navegam em torno da sala.

No alto do apartamento
gira um homem em sua jaula.

Pulsam músculos felinos:
de seda, sete navios.

Em torno de si, o homem:
sete brinquedos sombrios.

Os sete tigres passeiam:
singram selvas de saudade.

O homem espreita do alto
a sombra solta de um salto.

Os sete tigres desfilam
em finas lâminas de água.

Preso à fumaça do tédio,
um homem ruge, entre espectros.

Sete voltas vezes sete
no quente mês de setembro.

In the forests of the night:
sete harmônicas geometrias.

O homem mede o abismo
na solidão de seus dias.

Sete tigres sonham lentos
animais pastando ao vento.

As passadas no terraço
ressoam no pavimento.

Cheiros no vento sugerem
antílopes de várias cores.

Os pneus de um automóvel:
setas alvejando a Noite.

As sete serenas feras
percorrem lentas esferas.

Da varanda ao calçamento
uma equação de silêncio.

Manchas negras e amarelas
e o vai-e-vem nas janelas.

Nos desertos da memória:
a rua, o poste, a calçada.

Sete tigres de Bengala
naufragam dentro da sala.

 

[Everardo Norões (Crato / Ceará, 1944-)]

 

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