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A Carlos Drummond de Andrade
Alta onda,
Altaonda, constrói o teu retrato
de raro sal de ferro, violento,
e esta imagem me invadindo as tardes,
eu deixando, certo certo
contaria todos os meus ossos.
Então é isso:
o rigor da ordem sobre o ardor da chama
de história simples com alguma coisa de fatal,
estátua banhada por águas incansáveis,
tigre saltando o escuro
nos degraus da escada, apenas pressentido,
este ir e vir sobre os passos dados,
rua sem saída, esbarro no muro.
Altaonda, diz teu silêncio,
um silêncio ao tumulto parecido,
um mistério que é teu signo e mapa
sumindo no fundo do mar.
É este o nome da vida
e dá prazer estar aqui.
Após vinte anos ter
rondado os caminhos da sombra
tudo e todos são espelhos,
espelhos meus, me refletem:
solitário tigre rondando
a ira, o horror, o tédio.
Só tu, na outra extremidade
Da corda bamba, és único,
és realmente o outro.
Uno, nada refletes.
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