ana

| entrada | Llibre del Tigre | sèrieAlfa | varia | Berliner Mauer |

 

 

 

 

[Ana Rüsche (São Paulo, 1979-)]

 

Tigre

[Tigre]

 

tempo nublado no carnaval

[temps nuvolós a carnaval]

 

O Boato

 

 

 

Tigre

A mesma velha partida,
o terror das coisas mortas.
Ali ele se fundiu novamente.

A noite escapou pelas duas pupilas reluzentes
e asfixiou com um brilho estranho meus ouvidos.
O espinhaço se curva e rosna, a fúria
percorre todos ossos em nervos,
estalos de raiva eletrizam as listras douradas,
meus tímpanos gritam surdos com as garras roucas
uns rugidos de assassinato nas presas da mandíbula.

Então o asfalto flameja, o concreto brilha
e se acendem todas as estrelas.
Tigre, tigre
me persegue, me possui
me devasta, me rasga
e rasga,
corro, cambaleio e caio
chorando pelo meio da rua deserta.

 

 

[Rasgada, Selo quinze & Trinta, São Paulo, 2005]

 

 

R

 

 

[Tigre

 

La mateixa vella partida,    
el terror de les coses mortes.
Aleshores ell es va fondre de nou.


La nit va fugir per les dues pupil·les resplendents

i va asfixiar amb una brillantor estranya les meues oïdes.

L’espinada es corba i gruny, la fúria

recorre tots els ossos amb nervis,
esclafits de ràbia electritzen les ratlles daurades,

els meus timpans criden sords amb les urpes ronques

uns rugits d’assassinat en els ullals de la mandíbula.


Aleshores l’asfalt flameja, el formigó brilla 
i s’encenen totes les estrelles.
Tigre, tigre
em persegueix, em posseeix
em destrossa, m’esquinça   

i esquinça, 
córrec, trontolle i caic  
plorant 
al mig del carrer desert. ]

 

[Traducció de Joan Navarro]

 

 

R

 

 

tempo nublado no carnaval

 

Eles são dois por engano. A noite corrige

Eduardo Galeano

 

um jardim japonês,

pernas banhadas em veludo,

almofadas de tigre.

 

o primeiro tato,

a palma liqüefazia-se em luz

e vc procurava con calma meu umbigo.

 

a chuva fina escorria nas minhas veias

vc descortinava meu sono em mordidas,

e deflorou de leve minha manhã.

 

[Rasgada, Selo quinze & Trinta, São Paulo, 2005]

 

 

R

 

 

[temps nuvolós a carnaval]

 

Ells són dos per equivocació. La nit corregeix

Eduardo Galeano

 

un jardí japonès,

cames banyades en vellut,

coixins de tigre.

 

el primer tacte,

la palma es liquava en llum

i cercaves amb calma el meu melic.

 

la pluja fina degotava a les meues venes

obries les cortines del meu somni a mossegades,

i vas desflorar lleugerament el meu matí.

 

[Traducció de Joan Navarro]

 

 

R

 

 

O Boato


o muro ruiu

mas construiram outro em seu lugar
poucas léguas do que se pasa em el paso


o muro ruiu

e no checkpoint charlie
(que já dividiu amantes, alemanhas e a velha
bibliotecária de seus livros, de seus gatos),
hoje se inunda de caranguejinhos com olhos de tigre
a tirar fotografias como numa fila de banco

o muro ruiu

exatamente onde tatuaram a rosa de ontem.
uma rosa, um machucado, frincha de fresta entre frestas.
e o el muro de tordesilhas ruiu pelos pampas
já que cataratas e dilúvios não sabem ler e
soterram a lei da gravidade.

o muro ruiu

tudo isso é boato,
o resto é futuro.

 

R

 

| entrada | Llibre del Tigre | sèrieAlfa | varia | Berliner Mauer |