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Lubi Prates | sèrieAlfa 81

 

 

Imatge: Josep Basset

 

 

Lubi Prates

 

 

para este país

condição: imigrante

 

a aquest país

condició: immigrant

 

para este país

condición: inmigrante

 

to this country

status: immigrant

 

dans ce pays

condition : immigrant

 

 

 

pt1

para este país

para este país
eu traria

os documentos que me tornam gente
os documentos que comprovam: eu existo
parece bobagem, mas aqui
eu ainda não tenho esta certeza: existo.

para este país
eu traria

meu diploma os livros que eu li
minha caixa de fotografias
meus aparelhos eletrônicos
minhas melhores calcinhas

para este país
eu traria
meu corpo

para este país
eu traria todas essas coisas
& mais, mas

não me permitiram malas

: o espaço era pequeno demais

aquele navio poderia afundar
aquele avião poderia partir-se

com o peso que tem uma vida.

para este país
eu trouxe

a cor da minha pele
meu cabelo crespo
meu idioma           materno
minhas comidas preferidas
na memória da minha língua

para este país
eu trouxe

meus orixás
sobre a minha cabeça
toda minha árvore genealógica
antepassados, as raízes

para este país
eu trouxe todas essas coisas
& mais

: ninguém notou,
mas minha bagagem pesa tanto.

 

*

 

e ainda que

eu trouxesse

 

para este país

 

meus documentos

meu diploma

todos os livros que li

meus aparelhos eletrônicos ou

minhas melhores calcinhas

 

veriam

meu corpo

 

um corpo

negro.

 

pt2

condição: imigrante

 

1.

desde que cheguei
um cão me segue

&

mesmo que haja quilômetros
mesmo que haja obstáculos

entre nós

sinto seu hálito quente
no meu pescoço.

desde que cheguei
um cão me segue

&

não me deixa
frequentar os lugares badalados

não me deixa
usar um dialeto diferente do que há aqui
        guardei minhas gírias no fundo da mala
ele rosna.

desde que cheguei
um cão me segue

&

esse cão, eu apelidei de
imigração.

 

2.

um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:

como um cão selvagem

esqueça aquela ideia
infantil aquela lembrança
infantil

de sua mão afagando um cão
de sua mão afagando

seu próprio cão

ficou em outro país
ironicamente, porque a raiva lá
não é controlada

aqui, tampouco:

um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:

como um cão

: selvagem.

 

 

Lubi Prates (São Paulo, 1986) é poeta, editora e tradutora. Tem três livros publicados; sendo o terceiro livro, um corpo negro, contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia, além de diversas publicações em antologias nacionais e internacionais. É sócia-fundadora e editora da nosotros, editorial, é editora da revista literária Parênteses. Dedica-se à ações que combatem a invisibilidade de mulheres e negros.

 

 

81

 

cat1

a aquest país

a aquest país
jo portaria

els documents que em fan persona
els documents que confirmen: jo existeixo
sembla una ximpleria, però aquí
jo encara no tinc aquesta certesa: existeixo.

a aquest país
jo portaria

el meu diploma els llibres que he llegit
la meva capsa de fotografies
els meus aparells electrònics
les meves millors calces

a aquest país
jo portaria
el meu cos

a aquest país
jo portaria totes aquestes coses
& més, però

no em van permetre maletes

: l’espai era massa petit

aquell vaixell podria enfonsar-se
aquell avió podria partir-se

amb el pes que té una vida.

a aquest país
he portat

el color de la meva pell
el meu cabell cresp
el meu idioma           matern
els meus menjars preferits
en la memòria de la meva llengua

a aquest país
he portat

els meus orixàs
sobre el meu cap
tot el meu arbre genealògic
avantpassats, les arrels

a aquest país
jo he portat totes aquestes coses
& més


: ningú se n’adonà,
però el meu equipatge pesa tant.

 

*

 

i tot i que

jo portés

 

a aquest país

 

els meus documents

el meu diploma

tots els llibres que he llegit

els meus aparells electrònics o

les meves millors calces

 

sols veurien

el meu cos

 

un cos

negre.

 

cat2

condició: immigrant

 

1.

des que vaig arribar
un gos em segueix

&

encara que hi hagi quilòmetres
encara que hi hagi obstacles

entre nosaltres

sento el seu alè calent
al meu bescoll.

des que vaig arribar
un gos em segueix

&

no em deixa
freqüentar els llocs de moda

no em deixa
fer servir un dialecte diferent del que hi ha aquí
                vaig guardar els meus argots al fons de la maleta
ell gruny.

des que vaig arribar
un gos em segueix

&

aquest gos, l’he anomenat
immigració.

 

2.

un país que et gruny
una ciutat que et gruny
carrers que et grunyen:

com un gos salvatge

oblida aquella idea
infantil aquell record

infantil

de la teva mà acariciant un gos
de la teva mà acariciant

el teu propi gos


es quedà en un altre país
irònicament, perquè  la ràbia
no hi és controlada

aquí, tampoc:

un país que et gruny
una ciutat que et gruny
carrers que et grunyen:

com un gos

: salvatge.

 

 

Lubi Prates (São Paulo, 1986) és poeta, editora i traductora. Ha publicat  tres llibres;  el tercer, um corpo negro, ha rebut un ajut del PROAC a la creació i publicació de poesia. Ha participat en diverses antologies nacionals i internacionals. És sòcia fundadora i editora de nosotros, editorial, és editora de la revista literària Parênteses. Es dedica a accions que combaten la invisibilitat de dones i negres.

 

[Traducció: Joan Navarro]

 

reina

81

 

esp1

para este país

para este país

traería

 

los documentos que hacen de mí una persona

los documentos que comprueban: existo

suena tonto, pero aquí

todavía no tengo esta certeza: existo.

 

para este país

traería

 

mi diploma los libros que leí

mi caja de fotografías

mis aparatos electrónicos

mis mejores bragas

 

para este país

traería

mi cuerpo.

 

para este país

traería todas estas cosas

y más, pero

 

no me permitieron traer bolsas

 

: el espacio era demasiado pequeño

 

el barco podría hundirse

el avión podría estrellarse

 

con el peso que tiene mi vida.

 

para este país

traje

 

el color de mi piel

mi pelo rizado

mi lengua         materna

mis comidas favoritas

en la memoria de mi lengua.

 

para este país

traje


mis Orishas

sobre la cabeza

todo mi árbol genealógico

antepasados y raíces.


para este país

traje todas estas cosas

y más

 

: nadie se ha dado cuenta

de cuánto pesa mi equipaje.

 

*

 

y aunque

yo trajera

 

para este país

 

mis documentos

mi diploma 

todos los libros que leí

mis aparatos electrónicos o

mis mejores bragas

 

sólo verían 

mi cuerpo

 

un cuerpo 

negro.

 

esp2

condición: inmigrante

 

1.

 

desde que llegué

un perro me sigue

 

e

 

incluso si hay kilómetros

incluso si hay obstáculos

 

entre nosotros

 

siento su aliento cálido

en mi cuello.

 

desde que llegué

un perro me sigue

 

y

 

no me deja

frecuentar los lugares que están de moda

 

no me deja

utilizar un dialecto diferente del de aquí

             guardé mis argots en el fondo de la maleta

él gruñe.

 

desde que llegué

un perro me sigue

 

y

 

a ese perro lo apodé

inmigración.

 

2.

 

un país que gruñe

una ciudad que gruñe

calles que gruñen:

 

como un perro salvaje

 

olvide la idea

infantil el recuerdo

infantil

 

de su mano acariciando un perro

de su mano acariciando

 

su propio perro

 

se quedó en otro país

irónicamente porque la rabia

no se controla allá

 

aquí, tampoco:

 

un país que gruñe

una ciudad que gruñe

calles que gruñen:

 

como un perro

 

: salvaje.

 

 

Lubi Prates (São Paulo, 1986) es poeta, editora y traductora. Ha publicado  tres libros;  el tercero, um corpo negro, ha recibido una ayuda del PROAC a la creación y publicación de poesía. Ha participado en diversas antologías nacionales e internacionales. Es socia fundadora y editora de nosotros, editorial, es editora de la revista literaria Parênteses. Se dedica a acciones que combaten la invisibilidad de mujeres y negros.

 

[Traducción: Lubi Prates y Sheyla Miranda]

 

 

81

 

ang1

to this country

 

to this country

I’d bring

 

the documents that make me a person

the documents that attest: I exist

it seems silly, but here

I am still not sure of it: that I exist.

 

to this country

I’d bring

 

my diploma the books I read

my box of photographs

my electronic devices

my best panties.

 

to this country

I’d bring

my body.

 

to this country

I’d bring all these things

& more, but

 

I was not allowed baggage

 

: space was too tight

 

that ship could sink

that plane could crack

 

with the weight of a life.

 

to this country

I brought

 

the color of my skin


my kinky hair

my mother tongue

my favorite foods

in the memory of my tongue

 

to this country

I brought

my orishas

upon my head

my entire family tree

ancestors, the roots

 

to this country

I brought

all those things

& more

 

: nobody noticed

but my baggage weighs so much.

 

*

 

and even if I brought

to this country

 

my documents

my diploma

every book I’ve read

my electronic devices or

my best panties

 

they would only

see my body

 

a black

body.

 

[Translation: Mariana Correia Santos]

 

 

ang2

status: immigrant

 

1.

 

ever since I got here

a dog’s been following me

 

&

 

even with miles ahead

even with the pitfalls

 

between us

 

I can feel your warm breath

upon my neck.

 

ever since I got here

a dog’s been following me

 

&

 

it won’t let me

go to the hot spots

 

it won’t let me

use a different dialect from the one here

I’ve saved my slang in the bottom of the

suitcase

it snarls.

 

ever since I got here

a dog’s been following me

 

&

 

this dog, I’ve nicknamed

immigration.

 

2.

 

a country that snarls at you

a city that snarls at you

streets that snarl at you:

 

like a savage dog

 

forget that childhood

idea that childhood

remembrance

 

of your hand petting a dog

of your hand petting

 

your own dog

 

it got left behind in another country

ironically, since they do not control

rabid dogs there

 

here, they don’t either:

 

a country that snarls at you

a city that snarls at you

streets that snarl at you:

 

like a savage

: dog.

 

[Translation: Maíra Mendes Galvão]

 

 

Lubi Prates (São Paulo, 1986) is a poet, editor and translator. Has three books published; while the third, A black body, has been contemplated by PROAC with a scholarship of creation and publication of poetry. Prates also has several publications in national and international anthologies. She is a founding partner and editor of nosotros, publisher, and editor of the literary magazine Parênteses. She’s been dedicated to actions that fight the invisibility of women and black people.

 

81

 

fr1

dans ce pays

 

dans ce pays

j’apporterais

 

les documents qui font de moi une personne

les documents qui prouvent : j'existe

cela semble idiot, mais ici

je n'ai pas encore cette certitude : j'existe.

 

dans ce pays

j’apporterais

 

mon diplôme les livres que j’ai lus

ma boite de photographies

mes appareils électroniques

mes meilleures culottes

 

dans ce pays

j’apporterais

mon corps

 

dans ce pays

j’apporterais toutes ces choses

et plus encore, mais

 

on ne m’a pas permis d’apporter des valises

 

: l'espace était trop petit

 

ce navire pourrait couler

cet avion pourrait se briser

 

avec le poids qu’a une vie.

 

dans ce pays

j’ai apporté

 

la couleur de ma peau

mes cheveux crépus

ma langue       maternelle

mes plats préférés

dans la mémoire de ma langue

 

dans ce pays

j’ai apporté

 

mes orishas

sur ma tête

tout mon arbre généalogique

ancêtres, les racines

 

dans ce pays

j'ai apporté toutes ces choses.

et plus encore

 

: personne n'a remarqué,

mais mes bagages pèsent tellement.

 

*

 

et même si

j'ai apporté

 

dans ce pays

 

mes documents

mon diplôme

tous les livres que j'ai lus

mes appareils électroniques

mes meilleures culottes

 

 

ils ne verraient que

mon corps

 

un corps

noir.

 

fr2

condition : immigrant

 

1

 

depuis que je suis arrivée

un chien me suit

 

&

 

même s’il y a des kilomètres

même s’il y a des obstacles

 

entre nous

 

je sens son souffle chaud

dans mon cou

 

depuis que je suis arrivée

un chien me suit

 

&

 

il ne me laisse pas

fréquenter les endroits à la mode

 

il ne me laisse pas

utiliser un dialecte différent de celui d’ici

                 j'ai gardé mes argots au fond de ma valise

il grogne.

 

depuis que je suis arrivée

un chien me suit

 

&

 

ce chien, je l'ai nommé

immigration

 

2

 

un pays qui te grogne dessus

une ville qui te grogne dessus

des rues qui te grognent dessus

 

comme un chien sauvage

 

oublie cette idée

enfantine ce souvenir

enfantin

 

de ta main caressant un chien

de ta main caressant

 

ton propre chien

 

Il est resté dans un autre pays

ironiquement, parce que la rage

n’y est pas contrôlée

 

ici, non plus :

 

un pays qui te grogne dessus

une ville qui te grogne dessus

des rues qui te grognent dessus :

 

comme un chien

 

: sauvage

 

 

Lubi Prates (São Paulo, 1986) est une poétesse, éditrice et traductrice. Elle a publié trois livres ; le troisième livre, um corpo negro, a reçu une aide à la création et publication de poésie du PROAC. Elle a participé à diverses anthologies nationales et internationales. Elle est partenaire fondatrice et éditrice de nosotros, editorial et éditrice de la revue littéraire Parênteses. Elle se consacre aux actions qui combattent l'invisibilité des femmes et des noirs

 

[Traduction : Dolors Català]

 

 

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