Vozes do Tsotsil

 

A tradição oral sempre foi companhia para todos os povos do mundo. As histórias ao redor do fogo, aos pés dos anciãos, nos momentos do trabalho. A voz falada serviu como a memória, como o coração falante de cada cultura.

 
Esta tradição de contar e de cantar a vida começou há tempos com as rezas, com as petições aos deuses da natureza, com os cantos de amor e de desesperança humana, com as petições de justiça ou os assinalamentos de injustiça.

 
Todo esse mundo foi também há tempos levado ao papel, em forma de escritura. O Popol-Vuh e o Chilam Balam de Chumayel os antecede, a gênese e história dos povos originais do México.

 

Assim, continuando essa tradição, três poetas marcam seu próprio tempo com suas próprias palavras e sonhos. Pertencem à tradição de todos os poetas do mundo. A terra é em sua palavra junto aos homens, suas esperanças e seus lamentos. Nada é alheio à visão que propõem. Aí estão como vigias do tempo, como herdeiros do espaço.

 

A poeta Ruperta Bautista, mulher tsotsil que, com sabedoria de comunidade, compartilha em seus poemas universos em um mesmo mundo. Sua linguagem é clara e profunda. A mãe terra vive agora um eclipse que logo sairá dela. Toda esperança é digna de ter seu canto, e Ruperta Bautista canta a essa esperança.

 

O poeta Manuel Bolom Pale, homem tsotsil, nos fala de forma abstrata. Com uma voz fresca pede e canta o silêncio, mas não o silêncio tranqüilo e contemplativo, senão o silêncio reflexivo e sábio. Aquele silêncio que dá respostas e perguntas necessárias para a existência dos homens.

 

E o poeta tsotsil Andrés López Díaz, voz jovem e guerreira. Crítico e bom observador de sua história, seus poemas começarão a ser memória dos tempo atuais, o signo contra este tempo. Sua poesia afirma uma identidade que durante muitos anos foi desprezada e que agora tem um brilho novo e necessário, como é o canto deste jovem poeta.

 

Os três poetas são filhos de grandes mudanças, testemunhas e participantes de projetos que fazem com que os idiomas originais do México tenham por fim o lugar que merecem.

 

Felizmente a forma de se ver a poesia escrita no México está mudando. E diferente de anos anteriores, depois de 1º de janeiro de 1994, as coisas já não são como antes. Agora existem publicações de poesia em idiomas como o Tsotsil e outros idiomas originais do México, existem encontros de escritores e intelectuais dos povos originais do México, e o melhor é que existem leitores nestes idiomas.

 

É importante compartilhar com estes três jovens poetas e tradutores em Tsotsil sua visão particular do mundo que lhes coube viver. E ver de muitas maneiras seu trabalho poético. A natureza, parte importante em suas vidas, vive aí entre cada um dos versos.

 

Ruperta, Manuel e Andrés são uma amostra importante dos jovens poetas mexicanos em Tsotsil que acompanham a partir de sua terra e sua natureza os outros poetas do mundo.

 

 

Marco Fonz de Tanya

México, 2008

 

[Traducció de Fábio Aristimunho Vargas]

 

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