Fluxo de linguagem
20 poetas brasileiros contemporâneos

Eduardo Sterzi

Qualquer antologia de poesia contemporânea é uma empresa fundamentalmente falível e, por isso, provisória. Por que escolher certos poetas e poemas e não outros? Inevitavelmente enredado no tempo presente, o antologista não pode, sob o risco do ridículo, forjar para si uma posição olímpica, pretensamente (e pretensiosamente) neutra, objetiva, mas, por outro lado, também não pode simplesmente movimentar-se, entre nomes e textos, ao sabor de suas idiossincrasias, de sua subjetividade teimosa e/ou ressentida. Além do mais, a determinação de um critério prévio de seleção, qualquer que ele seja, não elimina ou diminui a dificuldade da tarefa e até mesmo a torna mais sujeita a equívocos, pela exigência assim gerada de reduzir um desenho que é vário e rico a uma moldura limitada.

No entanto, por mais vário e rico que seja o panorama poético observado, o antologista o fará sempre a partir de um ponto de vista forçosamente restrito e contingente. Ele certamente não terá lido todos os poetas interessantes de sua época, por mais que se esforce em acompanhar os lançamentos de revistas e livros, e, dentre os que ele conhece, possivelmente dará mais atenção a um ou outro por questões extraliterárias – seja pela acolhida invulgar de um determinado poeta pelos leitores e sobretudo pelos críticos (o que nem sempre é sinal de qualidade intrínseca de sua poesia), seja pelas relações de admiração mútua ou mesmo de amizade entre o antologista e o poeta (bastante comum em se tratando de contemporâneos e conterrâneos marcados pelo interesse afim pela poesia). Acredito que só se sai desse impasse por meio de uma atitude pragmática: por certo, de uma perspectiva ideal, os poetas e poemas por mim selecionados podem não ser os melhores ou mais representativos do país e da época em que me coube viver, mas estão entre aqueles que eu considero, a partir de minhas leituras, os melhores ou mais representativos. E, mais do que à qualidade ou a representatividade absolutas, de que sempre é prudente duvidar, minha pretensão de improvisado antologista dirigiu-se à riqueza e a diversidade (à visão plena das quais, como já disse, é duvidoso que se chegue...): quis e tentei, antes de tudo, apreender uma imagem, fugaz e precária que seja, de um tempo de incomum pluralidade e força na poesia brasileira.

Contudo, alguns esclarecimentos devem ser feitos: estabeleci, de antemão, arbitrariamente, o número de 20 poetas – dos quais eu selecionaria dois poemas de cada um, totalizando, ao final, 40 poemas. E estabeleci também um intervalo no qual efetuar minha seleção: os poetas deveriam ter começado a publicar no máximo na segunda metade dos anos 1970. Mas, claro, sobre aqueles que publicam desde então, já pesou a filtragem do tempo que passa, por isso o seu número relativamente pequeno; a ênfase da antologia recaiu, portanto, sobre os poetas mais recentes, que publicam desde a década de 1990 ou mesmo, em dois casos, ainda são inéditos em livro.

Devo dizer também que não hesitei em escolher, de alguns autores, poemas que mostram uma faceta que, embora longe de ser a predominante em suas obras variadas e multiformes, me pareceu a mais instigante e mais significativa para o presente: por exemplo, apresento aqui dois poemas em prosa de Régis Bonvicino, quando, estatisticamente, eles são mais ou menos raros em sua obra; quanto a Carpinejar, que planeja seus livros como longos poemas a estender-se da primeira à última página, e usualmente com um dicção marcada pelo fôlego largo, mesmo quando recortada em versos de curta extensão, preferi pinçar dois momentos de maior concisão. Para um conhecimento da poesia destes e dos demais autores em sua integridade e sentido originais, remeto os leitores aos livros indicados nas informações biobibliográficas que introduzem os poemas.

Essas informações foram extraídas de fontes variadas, sobretudo dos livros dos próprios autores e de notícias semelhantes encontradas em antologias e similares.

 

[Eduardo Sterzi]

(Porto Alegre, 1973) Além de poeta, é jornalista e crítico literário. Em 2001, publicou seu primeiro livro de poemas, Prosa (IEL/CORAG). Poemas seus já saíram nas revistas Inimigo Rumor, Poesia Sempre e CULT e no jornal Folha de S. Paulo. Atualmente, mora em São Paulo e desenvolve doutorado em Teoria e História Literária na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com tese sobre a Vita nuova de Dante Alighieri. Edita, com Tarso de Melo, a revista Cacto, cujo primeiro número sairá em julho de 2002, e o zine Nasdaq, publicado desde abril deste ano.

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