[Régis Bonvicino] [http://sites.uol.com.br/regis]
(São Paulo, 1955) Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), é juiz desde 1990. É editor da revista Sibila. Entre 1975 e 1983, já havia sido editor das revistas Poesia em Greve, Qorpo Estranho e Muda. Publicou os livros de poesia Bicho papel (Greve, 1975), Régis Hotel (Groove, 1978), Sósia da cópia (Max Limonad, 1983), Más companhias (Olavobrás, 1987), 33 poemas (Iluminuras, 1990), Outros poemas (Iluminuras, 1993), Primeiro tempo (Perspectiva, 1995, reunindo Bicho papel, Régis Hotel e Sósia da cópia), Ossos de Borboleta (Ed. 34,1996), Me transformo ou O filho de Sêmele (Tigre do Espelho, 1999), Céu-eclipse (Ed. 34, 1999). Alguns de seus poemas foram traduzidos para o inglês em Sky-Eclipse: Selected Poems (Green Integer, 2000). Traduziu, entre outros, Jules Laforgue, Oliverio Girondo, Michael Palmer, Robert Creeley e Douglas Messerli. Os poemas abaixo publicados foram extraídos ambos de Céu-eclipse.
[(São Paulo, 1955) Llicenciat en Dret per la Universidade de São Paulo (USP), i jutge des de 1990. És editor de la revista Sibila. Entre 1975 i 1983, ja havia estat editor de les revistes Poesia em Greve, Qorpo Estranho i Muda. Publicà els llibres de poesia Bicho papel (Greve, 1975), Régis Hotel (Groove, 1978), Sósia da cópia (Max Limonad, 1983), Más companhias (Olavobrás, 1987), 33 poemas (Iluminuras, 1990), Outros poemas (Iluminuras, 1993), Primeiro tempo (Perspectiva, 1995, reunint Bicho papel, Régis Hotel i Sósia da cópia), Ossos de Borboleta (Ed. 34,1996), Me transformo ou O filho de Sêmele (Tigre do Espelho, 1999), Céu-eclipse (Ed. 34, 1999). Alguns dels seus poemes han esta traduïts a l'anglès en Sky-Eclipse: Selected Poems (Green Integer, 2000). Ha traduït, entre d'altres, Jules Laforgue, Oliverio Girondo, Michael Palmer, Robert Creeley i Douglas Messerli. Els poemes que publiquem foren extrets tots dos de Céu-eclipse.]
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1
Nunca morei numa rua chamada Vidro. Chutei uma vez paralelepípedos. Cada dia passava como se num espelho – de ecos. Telefones, fios. Uma vez andei de barco num lago. Nunca me vi em meu próprio reflexo. Falas, conversas – uma só figura e pessoa. Alto-falante mudo. Também morei num apartamento minúsculo. Gosto do nome das ruas de alguns amigos. Amherst, Mílvia, Sírius. Não tenho tempo para nada. Meus cabelos caíram. Talvez isto seja tudo.
2
Meus antepassados vieram da Itália. Sicília. Nápoles. Veneza. Alessandro Bonvicino –Il Moretto. Também de Pontevedra, na Galícia. Meus antepassados, de mãe, vieram de minas. Meu nome: meu pai tirou de um cartão de visita.
3
Nunca passei por uma rua chamada Tesoura.Uma lacraia se move, por atalhos. Formigas caindo no olho. Giuliano Della Casa, água e tinta, gosta dos quadros de Alessandro Bonvicino. Giuliano vive em Modena, via Sant’Agostino, 33. Passei alguns anos fechado, aqui mesmo, num quarto. Há uma rua chamada Tesoura. Inhambu é o nome de um pássaro. Gosto de tomar aspirinas e hipnóticos. Uma onda de luz me abandona agora – como a um fósforo, antes de partir. Há um sol e uma lua, ao mesmo tempo, no Boulevard Wilshire. Sabine Macher mora no 7 bis rue de Paradis. Alguém mora na Legion Dr. O pneu da bicicleta não é um círculo. Há uma avenida chamada Precita. O céu, ontem, estava oblíquo.
4
Vejo você mais tarde. O filho de onze anos de David gosta de selos estranhos. Alguém está fazendo garage sale, neste momento. Não senti uma queixa abafada na docilidade das flores, esta manhã. Também não vi um pássaro esguio, comendo insetos, esta manhã. Alguém mora em Gumtree Terrace. A água corre para o mar. A lua não fica cheia em um dia. Há uma rua chamada Lepic. Há uma outra, Lindero Nuevo Vedado. Aquela calçada está suja. Sweet William é o nome de uma flor. Elefantes não fiam pontas de agulha.
5
Talvez tenha morado numa rua chamada Sí dar. Há uma
rua chamada Campeche. Rose e Andy moram com certeza na Cedar Street. Maçãs
não significam nada. Dizem que existe um sedativo especial para lesmas.
Ninguém explica certas expansões do verde. Árvores grandes não dão frutos,
apenas sombras. Sequóias e conchas enlouquecem os homens. Uma mulher
esmerilha, pelo telefone. Há uma rua chamada Cedro. Cilícios consentem dias
e arames. fazem parte do universo
Farol – caixa de madeira, parede de viga, um sofá – sacos, onde a cabeça, talvez abrigo. Meia-parede, o domínio do jardim, feldspato: cabeça reclinada na pedra – olhar, profundo, à noite, para a rua, cega. Largar-se, num muro baixo, tragando o cigarro, à vista, para quem passa – variação da casa, sob o toldo em frente, onde dorme, sempre. Dorso nu, braços cruzados à cabeça: colcha vermelha entre o corpo e o degrau – vaso oferecendo sombra, trama de branco e azul, na calçada, sob a lona. Outra caixa, vazada, como cadeira. A rua, estreita, como porta, atravessando. Luz da tarde: a escada-passagem como quarto, sob árvores-frechais – acima, de plástico leve, cadeira branca – arbusto, prédio, varanda. para Lúcio Costa
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3
Mai vaig passar per un carrer anomenat Tresor. Un petit alacrà es mou per dreceres. Formigues que cauen a l'ull. A Giuliano Della Casa, aigua i tinta, li agraden els quadres d'Alessandro Bonvicino. Giuliano viu a Mòdena, via Sant'Agostino, 33. Vaig passar alguns anys tancat, ací mateix, en una cambra. Hi ha un carrer anomenat Tresor. Inhambu és el nom d'un ocell. M'agrada prendre aspirines i hipnòtics. Una ona de llum m'abandona ara -com a un fòsfor, abans de partir. Hi ha un sol i una lluna, al mateix temps, al Bulevard Wilshire. Sabine Macher viu al 7 bis rue de Paradis. Algú viu a la Legion Dr. El pneumàtic de la bicicleta no és un cercle. Hi ha una avinguda anomenada Damnada. El cel, ahir, estava oblic.
4
Et veig més tard. Al fill d'onze anys de David li agraden els segells estranys. Algú està fent garage sale, en aquest moment. No he sentit una queixa ofegada en la docilitat de les flors, aquest matí. Tampoc no he vist un ocell escanyolit, menjant insectes, aquest matí. Algú viu a Gumtree Terrace. L'aigua corre vers la mar. La lluna no fa el ple en un dia. N'hi ha un carrer anomenat Lepic. Hi ha un altre, Lindero Nuevo Vedado. Aquella calçada està bruta. Sweet William és el nom d'una flor. Elefants no filen puntes d'agulla.
5
Potser haja viscut a un carrer anomenat
Sí dar.
Hi ha un carrer anomenat
Campeche. Rose i Andy viuen amb seguretat a Cedar
Street. Pomes no signifiquen res. Diuen que existeix un sedatiu especial per
a llimacs. Ningú explica certes expansions del verd. Arbres grans no donen
fruits, només ombres. Sequoies i petxines enfolleixen els homes. Una dona
esmerila, pel telèfon. Hi ha un carrer anomenat Cedre. Cilicis consenteixen
dies i filferros. formen part de l'univers
[Traducció de Joan Navarro]
Farell - caixa de fusta, paret de biga, un sofà - sacs, on el cap, potser abrigue. Mitja paret, el domini del jardí, feldspat: cap reclinat en la pedra - mirada, profunda, en la nit, vers el carrer, cec. Abandonar-se, en un mur baix, empassant-se la cigarreta, a la vista, per a qui passa - variació de la casa, sota el tendal davant, on dorm, sempre. Dors nu, braços creuats al cap: cobertor vermell entre el cos i el graó - vas oferint ombra, trama de blanc i blau, a la calçada, sota la lona. Una altra caixa, buidada, com cadira. El carrer, estret, com una porta, travessant. Llum de la tarda: l'escala-passatge com cambra, sota arbres-fletxes - damunt, de plàstic lleu, cadira blanca - arbust, predi, veranda.
per a Lúcio Costa
[Traducció de Joan Navarro]
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