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[Alberto
Pucheu]
[http://sites.uol.com.br/albertopucheu]
(Rio de Janeiro, 1966)
Publicou cinco livros de poesia: Na cidade aberta (UERJ, 1993),
Escritos de freqüentação (Paignion, 1995), A fronteira desguarnecida
(Sette Letras, 1997), Ecometria do silêncio (Sette Letras, 1999) e A
vida é assim (Azougue, 2001). Organizou o livro Poesia (e) Filosofia; por
poetas-filósofos em atuação no Brasil (Sette Letras, 1998). Os poemas aqui
publicados provêm de A vida é assim.
[(Rio
de Janeiro, 1966) Publicà cinc llibres de poesia:
Na cidade aberta (UERJ, 1993), Escritos de
freqüentação (Paignion, 1995), A fronteira desguarnecida (Sette
Letras, 1997), Ecometria do silêncio (Sette Letras, 1999)
i A vida é
assim (Azougue, 2001). Organitzà
el llibre Poesia (e) Filosofia; por
poetas-filósofos em atuação no Brasil (Sette Letras, 1998).
Els poemes aquí publicats provenen d'A
vida é assim.]
Vale
do Socavão
/ Vale do Socavão
Poema da constatação retornante /
Poema de la constatació retornant
VALE DO SOCAVÃO
No plano da montanha
ensolarada,
vario entre o livro e a paisagem.
Os gaviões retornam pelas manhãs há mais de 40 dias.
Não sei o que querem:
a companhia de quem há meses não pronuncia uma palavra?
a companhia de quem caminha pelas trilhas
como gavião voando pelos ares? Não.
Eles reparam em minha presença apenas para se recolherem,
esquivos, na altivez – alheios a nada.
Deixo restos de frango assado no tronco próximo à casa.
Comem-nos.
O vento bate em meu rosto,
em minhas costas nuas e friorentas apesar do sol.
Vejo a clareza límpida do dia,
sabendo que sou outro, além do olhar.
Algo se move em mim, impossível de ser visto.
Algo se move em mim, impossível de ser escutado,
cheirado, tocado, degustado... algo se move em mim,
para o qual as palavras não se dispõem
mas obrigam-me a dizê-lo, após meses de indiferença
e mutismo. Tudo em mim, agora, é combustível:
difícil ficar ileso aos verdes da manhã,
ao trabalho diário, aos acontecimentos que,
mesmo corriqueiros, me contaminam.
Não há mais ninguém por aqui,
e minha existência é viável.
POEMA DA CONSTATAÇÃO
RETORNANTE
Uma máquina de carne
caminha por entre carros.
O mar da cidade não protege essa máquina.
Ela vai por entre o trânsito de outras máquinas,
sem pensar que está sozinha,
que pode ser esmagada por um leve susto
de outra máquina. Essa máquina
não pensa em nada – não precisa pensar em nada –,
mistura-se a ferros, vidros, borrachas
e parece agüentar qualquer rojão.
Às vezes, penso que a máquina entre máquinas não precisa
de proteção, desde que o motor de carne pegue pelas manhãs
e funcione ao longo de todo o dia.
Se é verdade o que às vezes penso,
se é verdade que essa máquina não precisa de proteção,
se é verdade que, custe o que custar, essa máquina não pode
parar, tanto faz agora ser essa
a cidade ou outra qualquer ou aquela ainda mais longe, tanto
faz, se o mar não protege essa máquina,
se essa máquina vai por entre o trânsito de outras máquinas.
Essa máquina vai por entre o trânsito de outras máquinas
de qualquer cidade. Essa máquina,
que já não pode parar, que parece agüentar qualquer rojão,
que às vezes penso não precisar de proteção, essa máquina
paga um preço
sem lembrar-se que paga. Mesmo as máquinas que não
querem pagá-lo, as que fogem por novas ruas abertas na
fuga,
as que sabem que habitam essa cidade com seus mares (e
não outra), acabam pagando, mais cedo ou mais tarde, um
preço – lembram-se, entretanto, que o pagam...
Inquietamente,
aceitam o adentrar de cada uma em seu quinhão.
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[VALE
DO
SOCAVÃO]
En el pla de la muntanya assolellada
alterne entre el llibre i el paisatge.
Les gavines retornen els matins des de
fa més de 40 dies.
No sé què volen:
la companyia de qui fa mesos no
pronuncia una paraula?
la companyia de qui camina per les
sendes
com gavina volant pels aires? No.
Elles reparen en la meua presència a penes per recollir-se,
esquives, en l'altivesa —alienes a res.
Deixe restes de pollastre rostit en el tronc pròxim a casa.
Se les mengen.
El vent em colpeix el rostre,
l'esquena nua i fredolica
malgrat el sol.
Veig la claror límpida del dia,
sabent que sóc un altre, més enllà de la mirada.
Quelcom es mou en mi, impossible de ser vist.
Quelcom es mou en mi, impossible de ser escoltat,
olorat, tocat, tastat... quelcom es mou en mi,
per al qual les paraules no es disposen
però m'obliguen a dir-ho, després de mesos d'indiferència
i mutisme. Tot en mi, ara, és combustible:
difícil eixir il.lés als verds del matí,
al treball diari, als esdeveniments que,
àdhuc corrents, em contaminen.
Ja no queda ningú per ací,
i la meua existència és viable.
[Traducció
d'Eva Dénia]
[POEMA DE LA CONSTATACIÓ RETORNANT]
Una màquina de carn camina entre els cotxes.
El mar de la ciutat no protegeix aqueixa màquina.
Va entre el trànsit d'altres màquines,
sense pensar que està sola,
que pot ser aixafada per un lleu ensurt
d'una altra màquina. Aqueixa màquina
no pensa en res — no necessita pensar en
res—,
es barreja amb ferros, vidres, gomes
i sembla aguantar qualsevol pica.
De vegades, pense que la màquina entre màquines no necessita
protecció, d'ençà que el motor de carn s'engegue al matí
i funcione al llarg de tot el dia.
Si és veritat el que de vegades pense,
si és veritat que aqueixa màquina no necessita protecció,
si és veritat que, coste el que coste, aqueixa màquina no pot
parar, tant se val ara que siga aqueixa
la ciutat o una altra qualsevol o aquella encara
més llunyana, tant
se val, si el mar no protegeix aqueixa màquina,
si aqueixa màquina va entre el trànsit d'altres màquines.
Aqueixa màquina va entre el trànsit d'altres màquines
de qualsevol ciutat. Aqueixa
màquina,
que ja no pot parar, que sembla aguantar qualsevol pica,
que de vegades pense que no necessita protecció,
aqueixa màquina
paga un preu
sense adonar-se que el paga. Àdhuc les màquines que no
volen pagar-lo, les que fugen per nous carrers oberts a la fuga,
les que saben que habiten aqueixa ciutat amb els seus mars (i
no una altra), acaben pagant, més prompte o més tard, un
preu —adonant-se, entretant, que el paguen...
Inquietament,
accepten que cadascuna s'endinse en la seua feixa.
[Traducció
d'Eva Dénia]
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